Há mais de três décadas, o ganha pão de José Victor Menon, 56, o Zé do Juju, está ligado ao popular juju – picolé de saquinho – que ele mesmo faz para vender no portão de escolas e diversos eventos (esportivos e culturais) em São João da Boa Vista (SP).
Desde março, no entanto, o
ambulante, que navegava por um mar tranquilo, viu as vendas de juju naufragarem
por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Um dos prejuízos mais
sentidos, neste período, envolveu a perda de uma moto financiada, que, por
falta de pagamento das parcelas teve de ser devolvida.
“Todo mundo foi prejudicado
pela pandemia, mas eu fui uma das pessoas mais prejudicadas. Estou há sete meses
sem renda e tive que desfazer da minha moto [que utilizava para trabalhar]”,
lamentou.
A interrupção dos eventos
refletiu diretamente na fonte de renda do sanjoanense, que vive com a mãe de 90
anos. Antes da paralisação, por exemplo, ele tinha como ponto principal de
venda dos geladinhos a escola do SESI (Serviço Social da Indústria), imediações
do Jardim Maestro Mourão.
Do lado externo, com
autorização, eram vendidos até 150 picolés de saquinho por dia. Com uma caixa
térmica pendurada no ombro, Zé carregava dois tipos de picolé de saquinho. Se o
cliente preferisse o de fruta (abacaxi, uva, morango, limão), o valor era de R$
1,00. Agora, se o gosto fosse pelo juju feito à base de leite (chocolate, milho
verde ou coco branco), a quantia era de R$ 2,00.
Sem contato com o público,
tanto na escola quanto nos eventos onde frequentava, o ambulante precisou se
reinventar para tentar recuperar a boa fase.
Por orientação de uma antiga
cliente, mãe de uma aluna do SESI, que conhece bem a história, Zé do Juju gravou
um vídeo e enviou o material para que a incentivadora o ajudasse a postar nas redes
sociais. E assim, de forma surpreendente, o conteúdo foi publicado e visto por
muita gente.
“Eu passando em frente à casa
de uma freguesa, ela me perguntou como estavam as coisas, aí eu expliquei que
tive que devolver a moto, que estava sem nenhuma renda e não tinha nem um real
para comprar pão. Aí, ela teve a ideia de divulgar a minha situação no grupo
Empreenda São João [no facebook]. A resposta do povo foi tão positiva que veio
bastante gente comprar aqui em casa”, comemorou.
Aos poucos aprendendo a
utilizar a tecnologia de divulgação, ele descobriu que esse novo formato de
vendas online pode ajudá-lo a superar o momento delicado.
“Tem um grupo de ex-alunos que
está me ajudando com a arrecadação de material [saquinhos, açúcar e outros
produtos] para fazer o juju. Eu pretendo, no ano que vem, comprar uma outra
moto através do meu trabalho”, determinou.
Figura conhecida na cidade, Zé
sempre foi visto circulando nos centros esportivos vendendo os geladinhos nas
arquibancadas de jogos de futebol do campeonato amador, competições de futsal,
basquete, vôlei, além de eventos realizados na Praça Joaquim José.
A história do juju surgiu em
1989, depois que o desemprego tentou desestabilizar a sua vida. Contudo, a
união da família foi essencial para espantar o início de uma crise financeira. Desta
forma, suas irmãs, junto com a mãe, que havia acabado de se aposentar como
lavadeira da Sociedade Esportiva Sanjoanense (SES), começaram a produzir o tal
juju.
No princípio, os picolés eram
vendidos na residência onde mãe e filho moram até hoje, na rua Faustino Sibin, 22, Vila Trafani, próximo
ao Centro de Integração Comunitária (CIC).
O “empurrãozinho” para o
início das vendas, na época, foi a Maratona de Integração/Escolas Comunidade,
que acontecia no CIC. O tradicional evento esportivo direcionado a estudantes
das redes pública e particular de São João contribuiu de certa forma porque muitas
crianças e adolescentes compraram os geladinhos.
“Então, minha sobrinha subiu
com uma caixinha de juju lá no CIC e voltou em dez minutos com ela vazia. Mas aí,
acabou a maratona e eu ainda estava desempregado. Então, pensei: se eles
compram nos jogos, na porta da escola vão comprar também”, analisou otimista.
Assim, depois deste fato, Zé começou
a levar o juju para as escolas Teófilo Ribeiro de Andrade, Joaquim José e SESI,
esta última frequentada há 25 anos, desde que a unidade se localizava no antigo
prédio da Escola Professor Hugo Sarmento (Escola de Comércio), na rua
Riachuelo, Centro.
Como não era muito longe de
sua residência, o deslocamento com a mercadoria era feito a pé mesmo. Mas, com
a mudança do SESI, em 2011, para o Maestro Mourão, o ambulante se viu a
distância aumentar.
Mesmo assim, não mediu
esforços para atender aos pedidos de alunos e pais, que quiseram que ele
continuasse nas novas instalações da escola.
“Foi aí que eu comprei a minha
primeira moto porque ficava difícil carregar as caixas nos braços. Depois, tive
outras”, relatou.
Zé também é reconhecido por ter
sido voluntário de um projeto social de futebol, desenvolvido de 2009 a 2013,
na Vila Trafani, onde reside há 55 anos. Para evitar que crianças brincassem na
rua, com a ajuda de um amigo, ele improvisou um campinho e conseguiu apoio da
sociedade.
Enquanto aguarda pela liberação por completa
dos eventos e o retorno das aulas em São João, Zé do Juju segue apostando nas
vendas online. E tem dado certo o novo jeito de vender. Contando com o apoio da
população de São João, Zé tem um sonho de não ser esquecido.
“Eu queria ser lembrado daqui
a cinquenta anos, depois da minha passagem, igual outros personagens históricos
da cidade como “Niquita”, “Zé das Moças”, “João Alho”. Fico muito feliz com o
carinho que o povo de São João tem por mim”, agradeceu emocionado.
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