Era
manhã de um dia que, agora, não consigo me lembrar. Tempo em que ainda ocupava os
microfones da rádio Piratininga de São João da Boa Vista (SP), na apresentação,
produção e sonoplastia do programa “Bom Dia Cidade”, exibido diariamente pelos
970 khz. Naquela ocasião, atendendo a pedidos, anunciei aos ouvintes a execução
da música “É o Amor”, considerada a principal obra de autoria de Zezé di
Camargo -- gravada com o irmão Luciano --, sendo responsável por alavancar a
dupla sertaneja.
No
entanto, a música não seria interpretada pelos dois filhos de Francisco. Mas
sim, pela consagrada cantora Maria Bethânia. A canção, regravada pela baiana, fez
parte da trilha sonora da novela “Suave Veneno”, exibida pela TV Globo, em 1999.
Assim
que acabou a execução, uma ouvinte ligou para a emissora e me disse que a
música era “muito bonita”. Contudo, ela não sabia que a letra havia sido
composta por Zezé di Camargo.
Ao
saber, o discurso doce virou salgado. O questionamento, em tom de ceticismo, se
voltou ao fato de como o sertanejo conseguiria compor uma canção para ser regravada
pela irmã de Caetano Veloso, um dos ícones da MPB.
Querendo
ou não, foi para o estúdio.
Por
meio daquele telefonema, deu para perceber que o preconceito diante de estilos
musicais considerados populares como o sertanejo, pagode e axé, é enorme. Na
visão da ouvinte, a música era maravilhosa até o ponto de “descobrir” o nome do
compositor.
Escrevo
este texto apenas para abordar a questão do preconceito musical. Eu, por
exemplo, faço parte do grupo Toca do PAGODE, formado em São João da Boa Vista, há
20 anos. Nos shows, eu e os demais músicos interpretamos tanto artistas jovens
do momento quanto gigantes da música como Nelson Cavaquinho, Adoniran Barbosa,
Cartola, Beth Carvalho, Jorge Aragão.
O
problema está na hora de vender apresentações para contratantes que nunca nos ouviram
ou assistiram. Logo que divulgamos o nome Toca do Pagode, o questionamento é
quase sempre o mesmo: “ mas tocam só pagode? E o samba de ‘qualidade’, vocês
tocam”?
Respondemos
que sim, é claro. Contudo, eles ficam meio desconfiados e acabam nos
contratando. Após os shows, eles logo vêm querendo agendar outra data porque
aprovaram a apresentação e não se importaram com o nome.
Infelizmente
é assim que acontece. Se o nome é bonitinho, o contrato é assinado na hora. Se
é meio esquisitinho, aí é preciso muito argumento para não ser deixado de lado.
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